A inadimplência dos consumidores brasileiros atingiu em novembro o maior índice desde outubro de 2023, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Com 29,4% das famílias relatando dívidas em atraso, o cenário econômico reflete uma mistura de maior uso do crédito para compras de fim de ano e gestão financeira mais cautelosa.
Crescimento do Endividamento: O Cenário Atual
Em novembro, o endividamento do consumidor brasileiro subiu para 77%, ligeiramente acima dos 76,6% registrados no mesmo período de 2023. Apesar disso, o percentual de consumidores que se consideram “muito endividados” caiu para 15,2%, o menor patamar desde novembro de 2021. Essa aparente contradição demonstra que, embora o uso do crédito esteja em alta, as famílias têm adotado um comportamento mais consciente na administração das suas finanças.
Comportamento Financeiro das Famílias de Baixa Renda
As famílias com renda de até três salários mínimos apresentam os maiores níveis de endividamento, chegando a 81,1%. Entre elas, 37,5% relataram dívidas em atraso e 18,5% declararam não ter condições de quitar seus débitos. Esses números contrastam com as famílias de maior renda (acima de 10 salários mínimos), que registraram um endividamento menor, de 66,7%, e apenas 5% afirmaram não conseguir pagar suas dívidas. Essa discrepância evidencia a maior dependência do crédito entre as famílias de baixa renda.
Impacto das Compras de Fim de Ano
O aumento no uso do crédito em novembro está diretamente ligado às compras de fim de ano. O presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, destacou que, apesar do aumento sazonal do crédito, as famílias têm buscado maior equilíbrio financeiro. “O perfil mais equilibrado das dívidas indica um uso mais consciente do crédito, com menor impacto na renda mensal”, afirmou.
As projeções para dezembro indicam que o endividamento deve continuar crescendo em razão do Natal, mas a inadimplência pode permanecer estável devido ao comportamento mais cauteloso das famílias diante dos juros elevados.
Cartão de Crédito e Outras Modalidades de Dívida
O cartão de crédito segue como a principal modalidade de dívida, representando 83,8% das famílias endividadas. Entretanto, houve uma redução de 3,9 pontos percentuais em comparação a novembro de 2023. Em contrapartida, o crédito pessoal continua ganhando destaque, com aumento de 2,5 pontos percentuais no mesmo período. Essa tendência está relacionada às taxas de juros mais baixas oferecidas por essa modalidade, tornando-a uma opção mais acessível para muitas famílias.
Comprometimento da Renda: Sinais de Estabilidade
O comprometimento médio da renda com dívidas em novembro foi de 29,8%, apresentando uma leve queda em relação a outubro. Além disso, o percentual de consumidores com mais da metade da renda comprometida caiu para 20,3%, o menor índice desde agosto de 2024. Cerca de 35,9% das famílias endividadas também conseguiram negociar prazos mais longos para quitação, reduzindo o percentual de inadimplentes com mais de 90 dias de atraso para 49,6%.
Considerações Finais
Os dados da Peic revelam um panorama complexo, onde o aumento do endividamento convive com uma gestão financeira mais cautelosa por parte dos consumidores. Enquanto as compras de fim de ano impulsionam o uso do crédito, a busca por equilíbrio nas finanças demonstra maior conscientização no gerenciamento das dívidas. Para o próximo ano, os desafios incluem não apenas reduzir os níveis de inadimplência, mas também promover condições de crédito mais sustentáveis para as famílias brasileiras.