A inadimplência no agronegócio brasileiro tem despertado atenção, principalmente em um cenário marcado por eventos climáticos extremos, preços desfavoráveis no mercado internacional e desafios financeiros para produtores rurais. Embora executivos e especialistas descartem a ideia de uma crise generalizada, a necessidade de soluções estruturais, como a popularização do seguro agrícola, é amplamente reconhecida.
Neste artigo, vamos explorar os fatores que impulsionaram a inadimplência, o impacto para os bancos e produtores, e como o seguro pode transformar o setor frente aos novos desafios.
Aumento da inadimplência: o que está acontecendo no agronegócio?
A inadimplência no crédito rural cresceu significativamente nos últimos anos, refletindo dificuldades enfrentadas tanto por grandes quanto pequenos produtores. Dados do Banco do Brasil (BB) indicam que a inadimplência no agronegócio saltou de 0,71% para 1,97% em um ano, sendo mais acentuada entre grandes produtores de soja no Centro-Oeste.
Outros bancos, como a Caixa Econômica Federal, reportaram um aumento ainda mais expressivo: atrasos acima de 90 dias subiram de 0,75% para 3,35% no mesmo período. No segmento de crédito rural para pessoas físicas, a inadimplência mais que dobrou, de 1% para 2,3%.
Principais causas do aumento da inadimplência
Alguns fatores explicam esse cenário de aumento dos atrasos e calotes no agronegócio:
- Eventos climáticos extremos: Secas, enchentes e outros fenômenos climáticos têm causado prejuízos significativos às lavouras, reduzindo a capacidade de pagamento dos produtores.
- Mercado internacional desfavorável: A queda nos preços das commodities e a valorização do real frente ao dólar impactaram negativamente a rentabilidade.
- Aumento de pedidos de recuperação judicial: Entre janeiro e setembro de 2024, produtores rurais pessoas físicas registraram 426 pedidos de recuperação judicial, um aumento de 135% em relação ao total de 2023.
- Demora no Plano Safra: O atraso no anúncio do Plano Safra trouxe incertezas ao setor, prejudicando o planejamento financeiro dos produtores.
Por que o seguro agrícola é a solução?
Especialistas afirmam que a criação de uma “cultura do seguro” no agronegócio brasileiro é essencial para mitigar os riscos financeiros e evitar que o crédito rural se torne ainda mais caro. Atualmente, o Brasil possui baixa adesão ao seguro agrícola. Um estudo da FGV aponta que, em 2022, apenas 8,1% da área plantada estava coberta por seguros, com um pico de 15,9% em 2020.
O seguro agrícola é fundamental para:
- Proteção contra eventos climáticos extremos: Garante que os produtores possam se recuperar de perdas causadas por secas ou enchentes.
- Redução do risco para os bancos: Com o seguro, as instituições financeiras têm maior segurança para oferecer crédito.
- Continuidade das operações agrícolas: O seguro evita que os produtores fiquem desassistidos financeiramente, permitindo a continuidade do ciclo produtivo.
O papel dos bancos na popularização do seguro agrícola
O Banco do Brasil, principal agente financeiro do agronegócio no país, tem adotado medidas para estimular a contratação de seguros ou garantias como parte da concessão de crédito. Segundo o vice-presidente financeiro do BB, Marco Geovanne Tobias, o banco está personalizando as taxas de financiamento: produtores sem mitigadores de risco, como seguro, pagarão mais caro pelo crédito.
No entanto, o alto custo do seguro ainda é um desafio, especialmente para pequenos produtores. Alternativas como cooperativas de crédito e hipotecas estão sendo avaliadas como opções viáveis para este público.
Impactos econômicos e previsões para o futuro
A situação atual do agronegócio, apesar de delicada, não é irreversível. Especialistas acreditam que o impacto da inadimplência no crescimento econômico será temporário. A expectativa é de uma safra mais robusta em 2025, com projeções do IBGE apontando um crescimento de 10,9% na safra de soja e 9,1% na de milho.
Além disso, os eventos climáticos extremos devem continuar sendo um catalisador para a adoção de práticas mais conservadoras e para o avanço do mercado de seguros.
O futuro do agronegócio brasileiro
Embora o aumento da inadimplência no crédito rural acenda um alerta, ele também reforça a importância de mudanças estruturais no setor. O seguro agrícola surge como uma ferramenta indispensável para proteger os produtores e o sistema financeiro contra os riscos crescentes das mudanças climáticas.
A transformação do agronegócio depende de investimentos em cultura de mitigação de riscos, ajustes no mercado de crédito e políticas públicas eficazes. Com esses avanços, o setor poderá se recuperar das dificuldades atuais e continuar como um dos pilares da economia brasileira.